Origem dos churros
Considerando a antiguidade dos ingredientes (farinha, água, sal, óleo e, por vezes, levedura) e a simplicidade da receita é lógico pensar que a origem dos churros se perde na noite dos tempos. Já no antigo Egito encontramos alguns vestígios. Nas cenas de padaria do túmulo de Ramsés III (1184–1153 a.C.) vemos a preparação de um produto de forma espiral naquilo que parece ser uma frigideira sobre lume. Lamentavelmente, estas representações em forma de frescos foram perdidas e apenas sabemos da sua existência graças aos desenhos efetuados antes do seu desaparecimento (1).
Atualmente, podemos encontrar produtos muito semelhantes em países árabes, o que faz pensar nessa origem, comum e ancestral, associada à cultura mediterrânea. Nesta fotografia, vemos “Mushabbak” e “Oo’waymat” dois produtos típicos libaneses semelhantes às nossas farturas.
Há uma teoria que afirma que os pastores foram os primeiros a fritar a massa por não terem fornos no campo para produzir pão. Também a etimologia da palavra churro pode estar relacionada com o tipo de gado.
Ainda que há algum tempo tenhamos tido notícias de que no arquivo de Simancas (Valladolid) se fazia referência a este produto num livro de receitas de monjas isabelinas ou clarissas do anos 1597 e que estas receitas teriam sido copiadas por um monge beneditino, não foi possível encontrar o documento exato.
O primeiro documento de que temos conhecimento, e que parece estar relacionado com esta profissão, data do ano de 1621, no qual Pedro Velasco, do grémio dos feirantes, pede um aumento nos preços dos produtos que fabrica de 14 para 18 maravedis, devido ao aumento do preço da farinha e do azeite (2).
Os feirantes vendiam de forma ambulante refrescos da época (denominados aloja, em Espanha), frutos secos, bolachas, etc. Durante muitos anos assim se venderam e fabricaram as massas fritas, na rua com um forno e uma mesa rebatível que servia de mostrador.
As massas fritas eram chamadas “frutas de frigideira”, “frutas de seringa” ou filhós e há uma pequena referência a estes produtos no famoso livro da “Arte de Cocina, pastelería, bizcochería y conservería” escrito em 1623 pelo cozinheiro-mor do rei, Francisco Martínez Montiño…(3) E assim, “buñolerías”, é como se denominavam à época em Espanha os estabelecimentos de massas fritas.
O grémio dos feirantes inclui o dos produtores de filhós (buñoleros) até 1806. Durante os séculos XVII, XVIII e XIX há um grande aumento na procura de licenças para a venda de filhós (buñolerías), sendo curioso que se registem até 3 ou 4 licenças simultâneas para o mesmo lugar ou para lugares diferentes, o que dá uma ideia do poder do negócio e da existência de pequenas redes deste tipo de estabelecimentos.
Já no ano 1887 é quando encontramos pela primeira vez um documento com o termo “Fábrica de churros”, no qual Mariano Atienza Montoya faz um pedido para uma licença em Madrid. A denominação venda de filhós (buñolería) e churraria são sinónimos e recebem um ou outro nome dependendo das preferência do autor do pedido (4).
A partir de Espanha, os churros, já com esta denominação, passaram para outros países por influência cultural, como na América Latina, e/ou geográfica, sendo atualmente conhecidos com este nome em todo o mundo… Mas isso é outra história.